Hong Kong Fu

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quinta-feira, 1 de julho de 2010

Era Uma Vez…

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Por volta dos meus 7 anos começou minha paixão pela leitura. Devorava as histórias em quadrinhos, que eram abundantes na época — quem não se lembra: Mickey, Zé Carioca, Luluzinha, Mônica/Cebolinha, Brasinha, Bolota, Mortadelo&Salaminho, Heróis da TV, Capitão América, Kripta, MAD, Pancada, dentre muitas. O pessoal mais “descolado” então as trocavam em bancas nas feiras-públicas nos fins de semana — haviam “barracas” que trocavam e vendiam as revistas usadas aos montes! A garotada não precisava de sebo (nem sabíamos o que era isso).

Mortadelo_y_Filemon

Minha paixão pela leitura explodiu por ocasião do ginásio. Todos os meses tínhamos que ler e preparar resumos de livros, bem como, uma prova específica a cada dois meses sobre outro livro. Era outra época, os livros que tínhamos que ler eram bem diferentes dos que a molecada de hoje é obrigada a ler. Não havia Harry Potter. Mas em compensação cada bairro da cidade de São Paulo possuía uma filial das Edições de Ouro — o paraíso dos livros infanto-juvenis de então; eram todos em formato de livros de bolso e razoavelmente baratos.

Havia centenas de opções e coleções diferentes: Perry Rhodan, Monitor, A Inspetora, Goiabinha, Júlio Verne, clássicos da mitologia Greco-romana e universal adaptados para adolescentes: A Medusa, O Minotauro, O Castelo de Circe, Ulisses — escritos por Orígenes Lessa, Maria Clara Machado (Pluft), dentre muitos. Havia também a série “Para Gostar de Ler”, que era uma coleção com crônicas e pequenos contos dos melhores cronistas brasileiros: Mario Sabino, Dalton Trevisan, Rubem Braga, etc. Ah, e não me deixem esquecer a coleção Vagalume (uma delícia de ler!).

Livrinhos pequenos, de bolso, com histórias curtas, inesquecíveis, que marcaram toda uma geração. Quem não se lembra ou que nunca foi obrigado a ler os tais “livrinhos”: “O Gênio do Crime”, “A Volta ao Mundo em 80 Dias”, “Memórias de Um Sargento de Milícias”, “Sherlock Holmes”.

E agora relembro (com muita dor no coração) o grande amor da minha juventude: os livros da editora Hemus! Isaac Asimov (Fundação/Eu Robô), Ray Bradbury (As Crônicas Marcianas), Paul Anderson, Arthur C. Clarke — Esses já eram bem mais carinhos que os livrinhos das Edições de Ouro e, mesmo hoje, tantos anos depois, só são encontrados em sebos e a preço de ouro, como raridades e peças de colecionador.

dr fassbender

O tempo foi passando, e meus gostos e necessidades de leitura foram se aprofundando. Nos primeiros anos da faculdade cheguei a assinar e ler diariamente dois jornais ao mesmo tempo — isso fora toda leitura semanal a que era obrigado a acompanhar: um calhamaço por semana, no mínimo. Lia de tudo, como sempre, mas numa velocidade e voracidade muito maior do que hoje. Eu costumava brincar comigo mesmo ao fazer a contabilidade de quantos livros eu conseguia ler todo ano. Houve anos que cheguei a ler mais de 50 romances (Não acredita?).

Eu trabalhava, estudava, morava sozinho e ainda tinha pilhas de relatórios e trabalhos semanais para entregar — detalhe, tinham que ser todos datilografados!! Eu simplesmente não sei onde arrumava tempo e energia para fazer tanta coisa, tanto trabalho mental. Hoje em dia me dou por satisfeito se consigo ler uns 20 e poucos livros por ano, bem lidos, bem analisados e compreendidos página por página — Qualidade e não Quantidade.

Escrevia muito desde aquela época. Mas eram textos técnicos, sem estilo, não tinha intimidade (muito menos tempo) em escrever relatos mais pessoais ou literários (eu também precisava dormir afinal de contas). Lembro até hoje: eu tinha amigos que vinham me dizer que não acreditavam o quanto eu lia e produzia os textos; diziam para eu dar um tempo, que não era o super-homem; e na hora das provas então! Só faltava me baterem; O Povo literalmente arrancava a caneta da minha mão antes do tempo da prova expirar; diziam que eu, por escrever em excesso, “elevava a margem de normalidade estatística” das provas, tornando mais difícil para o resto da turma tirar boas notas!! (Há, Há) — na época o pessoal ainda não se tocava que quantidade não era sinônimo de qualidade, mas, modéstia a parte eu arrasava sim — aliás, infelizmente eu, ao mesmo tempo em que era considerado caxias e CDF, paradoxalmente não tirava as notas mais altas em todas as matérias — eu era terrivelmente prolixo e pedante, acho que nem os professores suportavam corrigir as minhas provas!

Escrever bem exige muitas habilidades subjetivas. Você precisa ser muito atualizado, ter boa capacidade de observação, doses generosas de senso de humor, espirituosidade, senso crítico minimamente apurado, boa formação geral, objetividade, clareza, etc, bem como, não pode cultivar vícios e/ou defeitos que acabam com sua redação, tais como ser prolixo, rebuscado, não dominar regras ortográficas, etc — E, para piorar de vez, mesmo você sabendo escrever de forma minimamente correta, se quiser expressar sua opinião pessoal você ainda por cima tem que reunir muitas informações e pesquisar muito bem sobre aquilo que vai falar, para não correr o risco de falar bobagem.

Não, não é fácil.

Na sua escrita sempre vai faltar algum elemento dessa equação toda: estilo, atualização, clareza, relevância, elegância...

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